terça-feira, 11 de agosto de 2009

Pé na trilha

Os 93,5 mil metros quadrados do Parque Lage impressionam por apresentar a feição de uma floresta natural, com um intrincado de árvores e arbustos de categorias e dimensões variadas. Pouco se parece com o Jardim Botânico, logo abaixo, na mesma rua, com exceção das palmeiras imperiais dispostas do portão à entrada da casa estilo colonial. Essa exuberância e aparente “desordem” sempre chamaram minha atenção, mais ainda ao descobrir o principal atrativo do local: a trilha para o Cristo Redentor.

Adoro esses “programas de índio”. Calça molinha, tênis e mochila a postos, com lanterna, biscoitos, e muita (muita!) água: lá vou eu 710 metros morro acima. A ideia de aliviar um pouco os dois litros d’água na bagagem some quando lembro da primeira vez que, anos atrás, botei meus pés nessa trilha. Cheguei ao topo com língua e lábios grudados como papel de bala.

Longe de qualquer sacrifício, o início do percurso pode ser descrito como um passeio bastante agradável, que qualquer pessoa, acostumada a percorrer o trajeto cama-sofá, é capaz de fazer. A etapa praticamente plana tem direito a três quedas d’água, que não são das mais exuberantes, mas refrescam como só uma cachoeira é capaz.

Há alguns anos, assaltos afastaram as pessoas desta trilha. Dizem que alguns sem-teto chegaram a morar ali, meio acampados, pela falta de segurança no parque. Hoje, sabe-se lá por que, só há mato mesmo. De qualquer forma, uma vez que os micos que surgem ao longo do percurso não vendem suas bananas – até porque não há bananeiras na Mata Atlântica – é melhor deixar seu rico dinheirinho em casa.

Não dê pipoca aos macacos


Os pequenos animais por aqui, aliás, não querem dar, mas receber. Os bichos, acostumados a ser alimentados pelos visitantes, se aproximam e vão seguindo o grupo. E você já deve ter ouvido por aí: “Não dê pipoca aos macacos”. Nem banana, por favor. O ato é uma condenação para eles, uma vez que desaprendem a buscar seus próprios alimentos – insetos e frutas silvestres – além de passarem a se reproduzir em escala maior do que o normal.

A parte mais difícil da trilha está logo no final. Uma subida rochosa requer equilíbrio e cuidado. Alguns ganchos de escalada sugerem que ali já teve uma corda ou algo para ajudar na subida. Depois desse ponto mais alguns metros, chega-se ao fim da trilha, no trilho do trem. A recepção fica por conta de alguns santos – São Judas Tadeu, coitado, perdeu a cabeça e é escondido por biombos de madeira para não ser visto por quem vem de bonde. Esqueceram de tapá-lo também para quem vem da trilha. Além dele, Nossa Senhora de Aparecida e São Sebastião fazem as honras.

Fora dos trilhos

É preciso então seguir pela estrada de ferro, mas com cuidado. O trem passa de 15 em 15 minutos. Surge então a primeira recompensa. A vista da Lagoa, Praia do Leblon e de Ipanema. Vale a pausa, geralmente feita no teto de concreto de uma pequena casa, sem função aparente. Hora de repor as energias para seguir adiante. Dos trilhos avista-se pela primeira vez o Cristo.

Na entrada do monumento, uma decepção. Seguranças informam que ingressos (R$ 13) não são vendidos no local, somente 2,5 km estrada abaixo, onde os carros são obrigados a estacionar (R$ 2). Que ótimo! Não pensaram em quem vem de trilha. Uma saída é descer a pé pela estrada que desemboca no Cosme Velho. Ou pagar R$ 45 e pegar o bonde. Ou fazer o caminho de volta. Até porque, para baixo, todo santo ajuda.

Foto: Robert Handasyde

3 comentários:

  1. ola renata!
    entao, o teto de concreto de uma pequena casa, sem função aparente, na verdade eh uma caixa d'agua, de uma nascente la de cima!
    obs..
    ta ooootimo esse blog!

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  2. Jura?
    Não tinha ideia.
    Pelo que você pode ver por essa palavrinha aí em cima, os acentos têm caído mesmo por aí, depois do polêmico Novo Acordo Ortográfico. Não merecem apego não!
    Beijos.

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