terça-feira, 15 de março de 2011

Um espião com pinta de caça-fantasmas

Ele nunca tinha estado em um bloco, mas já na estreia se tornou uma das atrações do carnaval de rua 2011. É só Charles Boggiss, de 32 anos, vestir seu macacão branco e a mochila com uma câmera 360º acoplada para chamar a atenção por onde passa. A mochila-espiã e o carro-espião, que flagram irregularidades e enviam as imagens para o Centro de Controle da prefeitura do Rio, é uma das novidades da folia deste ano que gerou polêmica.

Enquanto Boggiss caminha registrando tudo ao seu redor, há comentários de todo tipo: “parece até o caça-fantasmas”, “você está ficando famoso”, “olha aquele cara que filma os mijões”. Na apresentação do bloco Mulheres de Chico, no Leblon, uma foliã foi mais longe e tentou atirar água na câmera de Boggiss com uma arma de brinquedo.

— Foi só uma brincadeira, mas ele é um baita dedo-duro. Tira um pouco a privacidade de quem brinca no bloco — reclamou Bruna Martins, estudante de 22 anos.

Apesar de algumas reclamações, Boggiss garante que a maioria dos foliões entende a função da mochila-espiã e do carro-espião.

— Tem gente que acha que estou enviando imagens para as redes de televisão. Quando me abordam, eu explico que as gravações são usadas pelo Centro de Controle da prefeitura para planejar melhorias para o próximo carnaval. Em geral, as pessoas entendem e apoiam o trabalho — explica.

Num primeiro momento, ele admite que imaginou alguma resistência da parte dos foliões quanto a sua presença no meio da festa, mas diz que a receptividade foi melhor do que a esperada. O maior flagrante que ele fez neste carnaval mostrou um homem urinando no carro-espião, conforme exibiu o “Fantástico“ da semana passada. O folião foi detido. O serviço, no entanto, acabou ultrapassando a função de vigiar:

— Em Santa Teresa, a filmagem que é enviada diretamente para o Centro de Controle da Prefeitura, viabilizou a rápida chegada dos Bombeiros ao local do acidente, em que um folião caiu de cima de um muro de cinco metros — conta, orgulhoso.

Boggiss vem reagindo bem à fama repentina, até porque ele chegou a conquistar algum reconhecimento em outra área de atuação. Durante quatro anos, o atual espião da prefeitura morou no Hawaí competindo no windsurf. Após voltar para o Brasil, começou a desenvolver a tecnologia usada pela prefeitura com uma amigo dos tempos do esporte.

A parceria com a prefeitura e a repercussão que o uso do equipamento ganhou estão servindo como uma vitrine para o novo produto. E Boggiss se tornou quase um garoto propaganda do item. Isso por acaso, porque a princípio outra pessoa carregaria a mochila-espiã em meio ao carnaval. Já no primeiro bloco de rua, o prestador de serviço furou e Boggiss acabou assumindo a função.

— O ideal mesmo seria eu cumprir essa função, afinal desenvolvi o equipamento e sei usá-lo — diz.

A mochila pesa cerca de cinco quilos e carrega um computador, uma bateria e um inversor que transforma 12 volts em 110 volts, além da câmera, que permanece sobre a cabeça de Boggis. Com o término do carnaval, a intenção da empresa que detém a tecnologia é que o produto seja usada em outros eventos e para vídeos institucionais de empresas.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Em busca de uma segunda chance

Márcio Diniz da Silva passou por três presídios, incluindo Bangu II, antes de ocupar uma das celas da Penitenciária Vieira Ferreira Neto, no Fonseca. Uma década de seus 32 anos de vida foi passada atrás das grades devido a condenações por tráfico de drogas. Ele conta que, dentro da prisão, chegou a receber instrução para dominar uma grande comunidade da Zona Oeste. Apesar de todo o histórico de crimes, agentes de segurança entregam a ele, diariamente, tesouras e estiletes para seu trabalho de confecção de bolsas, exercido dentro da carceragem. É como se uma primeira porta fosse aberta.

— Abracei essa oportunidade com toda a força, porque é a chance que tenho de aprender uma profissão. Sempre fui muito bom na rua, e aqui também dou o meu melhor — diz Silva, diante da máquina de costura. — É uma ilusão pensar que se enriquece com o crime.

Ele é um dos detentos que trabalham no projeto da ONG Tem Quem Queira, que recebe doações de peças publicitárias em vinil, como banners, e as transforma em bolsas diversas, com uso da mão de obra dos presidiários. Os itens confeccionados são comprados pelas próprias empresas que doam materiais. No caso da CEG, uma das parceiras do projeto, os produtos finais servem de brindes para clientes. Os detentos são remunerados e recebem o benefício da remissão da pena (para cada três dias trabalhados, a pena é reduzida em um dia).

— Apesar de a maioria dos detentos nunca ter trabalhado com máquina de costura, o acabamento é primoroso. Este mês, abriremos uma oficina extramuro para presos em liberdade condicional e uma loja para venda — conta Marco Luna, um dos idealizadores da ONG.

Essa não é a única atividade laborativa do presídio. Dos cerca de 200 presos, 80 trabalham internamente. Número elevado diante de um índice de 8% a 10% de presos envolvidos em atividades nos presídios do estado. Jaime Melo, presidente da Fundação Santa Cabrini, que coordena as atividades realizadas, reconhece que ainda há muito o que fazer:

— No Fonseca, temos um galpão disponível para o trabalho, o que ajuda. Além de serviços de limpeza, vagas surgem em padaria e mecânica. Uma gráfica, uma confecção e uma marcenaria estão quase prontas.

Jaredes dos Santos, de 66 anos, trabalhou como motorista de caminhão e de ônibus, até ir preso. Nunca tinha mexido numa máquina de costura e, hoje, conta que já enviou bolsas feitas por ele até para as netas e a esposa.  Santos trabalha das 9h às 16h, de segunda a sexta-feira. Leocádio de Souza Filho, que já passou pela confecção e hoje corta os moldes para as peças, também não tinha experiência. Preso por homicídio e tráfico de drogas, ele diz que pretende abrir uma pequena confecção quando deixar a penitenciária, usando o dinheiro que juntou em anos de trabalho intramuros. Desde 1984, ele só passou três anos fora da cadeia.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O verão pede passagem

Ontem foi o dia de tirar o chapéu do armário, se empapuçar de protetor solar e carregar a garrafinha d'água junto ao corpo. No primeiro domingo de sol do ano, o calor não deu trégua. O Climatempo registrou máxima de 38,4ºC. na Saúde, a temperatura mais alta do verão, que começou no último dia 21. O calorão foi como um convite a cariocas e turistas para as praias. Quem decidiu curtir o fim de semana na orla, no entanto, teve que abrir mão do conforto, porque não havia espaço livre nem na areia, nem dentro d'água. Desde 19 de dezembro, o Rio não vivia um domingo ensolarado.

No entanto, segundo o Climatempo, o céu azul já está com as horas contadas. Ontem, um sistema de alta pressão sobre o oceano manteve o céu limpo no Rio. Nessas condições, o ar tende a descer, retendo a umidade próxima à superfície. A partir de hoje, no entanto, as previsões apontam para a formação de um sistema de alta pressão, que atua de modo inverso. Com isso, aumentam a nebulosidade e as chances de chuva, principalmente no fim da tarde e à noite. A aproximação de uma frente fria, que está na costa do Rio Grande do Sul, derruba a temperatura para 30ºC., a partir de amanhã.

Na Barraca do Uruguai, no Posto 9 de Ipanema, a previsão não preocupava. A palavra de ordem por lá era atender aos banhistas. As garrafas d'água foram o produto mais vendido ontem , seguido da cerveja.

— Como agora temos número de barracas e cadeiras limitado para oferecer, não estamos dando vazão à demanda — disse o uruguaio Milton Gonzalez, há 30 anos naquele ponto da praia.

Estudantes de Farmácia em São Paulo, Carolina Brandão da Costa, de 25 anos, e Mariana Trojuello, de 22, aproveitaram o último dia de suas férias no Rio no Arpoador. Hospedadas em um hotel no Recreio, escolheram o local pela beleza natural.

— A vista da Pedra do Arpoador é única. Não podia ir embora sem passar por aqui — disse Carolina.

O barraqueiro Jeziel Cruz, conhecido como Bangu, comemorava o movimento, mas não deixou de reclamar sobre a falta de iluminação nos refletores do Arpoador. Segundo ele, que é presidente da Associação de Barraqueiros de Praia (Acoplas), o problema vem prejudicando a frequência do local à noite.

— O Choque de Ordem virou “Choque de Pode”. Nos fins de semana o calçadão vive cheio de ambulantes, que cobram mais barato do que a gente por não pagarem as taxas da prefeitura — reclamou Cruz.