sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Em busca de uma segunda chance

Márcio Diniz da Silva passou por três presídios, incluindo Bangu II, antes de ocupar uma das celas da Penitenciária Vieira Ferreira Neto, no Fonseca. Uma década de seus 32 anos de vida foi passada atrás das grades devido a condenações por tráfico de drogas. Ele conta que, dentro da prisão, chegou a receber instrução para dominar uma grande comunidade da Zona Oeste. Apesar de todo o histórico de crimes, agentes de segurança entregam a ele, diariamente, tesouras e estiletes para seu trabalho de confecção de bolsas, exercido dentro da carceragem. É como se uma primeira porta fosse aberta.

— Abracei essa oportunidade com toda a força, porque é a chance que tenho de aprender uma profissão. Sempre fui muito bom na rua, e aqui também dou o meu melhor — diz Silva, diante da máquina de costura. — É uma ilusão pensar que se enriquece com o crime.

Ele é um dos detentos que trabalham no projeto da ONG Tem Quem Queira, que recebe doações de peças publicitárias em vinil, como banners, e as transforma em bolsas diversas, com uso da mão de obra dos presidiários. Os itens confeccionados são comprados pelas próprias empresas que doam materiais. No caso da CEG, uma das parceiras do projeto, os produtos finais servem de brindes para clientes. Os detentos são remunerados e recebem o benefício da remissão da pena (para cada três dias trabalhados, a pena é reduzida em um dia).

— Apesar de a maioria dos detentos nunca ter trabalhado com máquina de costura, o acabamento é primoroso. Este mês, abriremos uma oficina extramuro para presos em liberdade condicional e uma loja para venda — conta Marco Luna, um dos idealizadores da ONG.

Essa não é a única atividade laborativa do presídio. Dos cerca de 200 presos, 80 trabalham internamente. Número elevado diante de um índice de 8% a 10% de presos envolvidos em atividades nos presídios do estado. Jaime Melo, presidente da Fundação Santa Cabrini, que coordena as atividades realizadas, reconhece que ainda há muito o que fazer:

— No Fonseca, temos um galpão disponível para o trabalho, o que ajuda. Além de serviços de limpeza, vagas surgem em padaria e mecânica. Uma gráfica, uma confecção e uma marcenaria estão quase prontas.

Jaredes dos Santos, de 66 anos, trabalhou como motorista de caminhão e de ônibus, até ir preso. Nunca tinha mexido numa máquina de costura e, hoje, conta que já enviou bolsas feitas por ele até para as netas e a esposa.  Santos trabalha das 9h às 16h, de segunda a sexta-feira. Leocádio de Souza Filho, que já passou pela confecção e hoje corta os moldes para as peças, também não tinha experiência. Preso por homicídio e tráfico de drogas, ele diz que pretende abrir uma pequena confecção quando deixar a penitenciária, usando o dinheiro que juntou em anos de trabalho intramuros. Desde 1984, ele só passou três anos fora da cadeia.