Um restaurante que revogou o menu; derrubou as paredes da cozinha; e apostou numa decoração que chega a ser simples de tão requintada (ou seria o oposto?). Surpreendente em todos os sentidos. Só assim para descrever o restaurante petropolitano que tem em suas peculiaridades o grande diferencial: o Barão Gastronomia é ímpar. Mesmo numa cidade que esbanja opções gastronômicas, o Barão tem um charme que é só dele.
E regras idem. Nem adianta bater à porta do restaurante para jantar. O chef só atende com hora marcada. Uma vez à mesa, o cliente pode até sugerir preferência por algum sabor específico, mas o prato final sairá única e exclusivamente da cabeça do Barão.
E se um dos acompanhamentos for rejeitado? Com seu jeito boa-praça, sorriso no rosto que só desaparece quando o chef está compenetrado diante da panela, ele convencerá o visitante a experimentar a primeira garfada a que, invariavelmente, segue-se outra e mais outra... O valor a ser pago é determinado pelo número de pratos, todos elaborados na frente do cliente, numa cozinha totalmente aberta para o salão.
Alessandro Soares Vieira é conhecido como Barão desde a maternidade, quando chegou ao mundo já surpreendendo. Sua mãe estava grávida de gêmeos, não sabia e levou sete dias para se decidir pelos nomes do menino e da menina. Impaciente, o pai resolveu chamá-los de barão e baronesa, temporariamente. Nele, o apelido pegou, enquanto a irmã, criadora dos móveis do restaurante (todos à venda), ficou conhecida por seu nome mesmo, Alessandra. Foi em família que descobriu sua vocação para a cozinha.
— Minha vó, diante do fogão a lenha, já me chamava a atenção. Achava aquilo bonito. Eu me lembro dela guardando a carne em latas de banha, quando ainda não havia geladeira. Nos Natais em família, comecei a ajudar minha mãe com aqueles banquetes típicos da época — conta.
Obstáculos não faltaram. O pai, caminhoneiro, não gostava nada da ideia de o filho virar cozinheiro. Sem dinheiro, Barão não tinha como investir em cursos:
— Foi quando tracei uma meta: decidi que trabalharia com os melhores chefs, e essa seria a minha escola.
Deu certo. Passou pelas cozinhas de Danio Braga e Claude Troisgros, “com quem só não aprende quem não quer”. No Locanda della Mimosa, começou lavando pratos. Aos poucos, foi conquistando o seu espaço. Hoje, o restaurante Barão Gastronomia serve pratos com ingredientes regionais, temperados com um toque francês, e é marcado ainda pela presença de carnes exóticas como javali, jacaré, rã, escargot e outras tantas. A novidade que vem por aí é o cervo, como ele mesmo adianta.
— Tudo devidamente autorizado pelo Ibama, claro — avisa.
O restaurante se mudou recentemente para a nobre União e Indústria, em Itaipava. A antiga casa ocupada, em Areal, se transformará numa escola de gastronomia, com aulas gratuitas para a região. Foi no bairro de Petrópolis que o Barão nasceu e onde mora até hoje.